domingo, 15 de fevereiro de 2009

Arte é livre expressão

Rúbens Valentim
Arte é livre expressão


A Lei 5692/71 instituiu a Educação Artística no currículo oficial das escolas de Ensino Fundamental e Nível Médio, mas pouco se refletiu sobre a complexidade da Arte contemporânea e seu papel nas escolas e principalmente na vida dos alunos. Limitou-se a implantar os cursos de Licenciatura e nas escolas, com raríssimas exceções, o que se via e muitas vezes ainda se vê, é um “laissez-faire”. Um deixar fazer qualquer coisa a partir de sensibilização simplista ou da apropriação de sucatas, pouco se importando com a pessoa criadora, nos seus tempos e espaços situacionais e contextuais.

Agindo desta forma, os professores se omitem e acabam traduzindo o fazer artístico como meio de liberar emoções; levando à alienação da realidade e retirando do processo criativo a importância de aspectos cognitivos.

As artes fornecem um dos mais potentes sistemas simbólicos das culturas e auxiliam os alunos a criar formas únicas de pensamento. Em contato com as artes e ao realizarem atividades artísticas, os alunos aprendem muito mais do que pretendemos, extrapolam o que poderiam aprender no campo específico das artes. E, como o ser humano é um ser cultural, essa é a razão primeira para a presença das artes na educação escolar. (FERREIRA, 2001, p32)
Numa sociedade em que há o predomínio de uma concepção de educação voltada ao cientificismo, o reconhecimento da Arte e de suas especificidades de linguagens, acaba não existindo e ela passa a ser condenada como mero apêndice pedagógico, ou como oposição à ciência.

Quando na verdade, arte e ciência são faces do conhecimento, que complementam-se e ajustam-se perante o desejo de compreender o mundo. A arte não é oposição, nem contradição à ciência, todavia nos faz entender certos aspectos que a ciência não consegue fazer.

Sem uma concepção clara do que é arte, sem conteúdos e objetivos definidos, os professores acabam deixando os alunos se expressarem livremente. Trabalham apenas com a dimensão afetiva da arte. Ignoram que no homem, três dimensões estão presentes – a afetiva, a cognitiva e a social – e devem ser consideradas no processo de ensino e aprendizagem.

O espontaneísmo apenas, não basta, o mundo de hoje e a arte de hoje exigem um leitor informado e um produtor consciente. Muitos professores confundem improvisação com criatividade. A criatividade deve ser vista como um processo de busca de solução para um problema, muitas vezes não muito claro, mas que se materializa nas cores e formas de um pintor e também nas fórmulas de um cientista.

Arte é interdisciplinaridade

Uma citação de Sandra Lúcia Ferreira deixa bem claro que trabalhar com interdisciplinaridade é como executar uma sinfonia:

Para a execução será necessária a presença de muitos elementos: os instrumentos, a platéia, os aparelhos eletrônicos etc... Todos os elementos são fundamentais, descaracterizando, com isso, a hierarquia de importância entre os membros... Para que a sinfonia aconteça será preciso a participação de todos. A integração é importante mas não é fundamental. Isto porque na execução de uma sinfonia é preciso a harmonia do maestro e a expectativa daqueles que assistem. (FERREIRA, 2001, p. 34)

A interdisciplinaridade não pode ignorar as especificidades de cada área. Se a interdisciplinaridade acontecer da forma como Sandra Lúcia Ferreira propõe, ótimo! O que é muito diferente de usar a Arte para decorar as festas da escola, para ilustrar texto de Português, ou para ensinar princípios matemáticos via origami.

Assim como as outras disciplinas, a Arte tem conteúdo próprio. Mas, muitas vezes não é isso o que percebemos nas falas dos professores de Arte, como revelou a pesquisa de mestrado de Regina Célia Almeida Rego Prandini (2000). As entrevistas feitas por PRANDINI com professores de uma escola estadual do centro da cidade de São Paulo, revelaram que os professores de Arte não têm claro os conteúdos da disciplina que ministram e acabam aceitando, como seus, os conteúdos dos Temas Transversais, como cidadania, sexualidade, ecologia, os conteúdos das demais disciplinas, bem como aqueles referentes as datas comemorativas.

Trabalhar de forma interdisciplinar não quer dizer partir das outras disciplinas e integrá-las à Arte ou colocar a Arte a serviço das outras disciplinas. A Arte não é um meio, é um fim em si. Ela não serve nem é servida. Ela é ela!

Vista desta forma, a interdisciplinaridade será uma questão de atitude. Atitude frente ao conhecimento. É a substituição de uma concepção fragmentada por uma única de ser humano.

SILDA PORTILHO

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